Unidos, os trabalhadores se dirigiram ao local da morte de Roberto Celis, pedreiro de 31 anos que tinha toda uma vida promissora pela frente, pois esperava passar à condição de encarregado para breve.
Sob forte emoção, houve a realização de um culto ecumênico.
O acidente
Cansados, sem capacitação profissional adequada e com falta de orientação de técnico de segurança, os operários realizavam o serviço de desforme da laje.
“Trata-se de mais uma tragédia anunciada”, observou Ramalho da Construção. “Um dia antes do acidente (28 de setembro), o Sindicato fez uma fiscalização no canteiro detectando inúmeras irregularidades. Ficou constatado que a área de vivência, além de reduzida, não atendia as exigências da Norma Regulamentadora de número 18, que estabelece diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização que objetivam implementar medidas de controle e de sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho. Além do mais, as condições de higiene eram péssimas e existiam diversos itens em desacordo com a Convenção Coletiva de Trabalho e a norma regulamentadora 18 da categoria, em especial no tocante às empreiteiras subcontratadas pela Brookfield. O Sindicato, diante disso, estava prestes a fazer greve no local, em busca da segurança da integridade física dos operários, tendo nas tarefas excessivas o principal motivo”, relatou Ramalho.
“O Sindicato”, continuou, “vem fazendo campanha sistemática nos canteiros de São Paulo contra esta prática desenvolvida por alguns maus empresários, que submetem o profissional a horas extras intermináveis, pagando o trabalho por fora do holerite e, assim, sonegando impostos junto ao governo, prejudicando o trabalhador para efeito de 13º salário, férias, FGTS, INSS e aposentadoria, além de causar ocorrências fatais como a que vitimou o companheiro Roberto, pois chega uma hora que o cansaço causado pela carga excessiva de atividades transforma-se numa série de problemas no desenvolvimento do serviço feito.”
Em seu discurso, o presidente do Sintracon pediu aos trabalhadores da Brookfield que se organizem e formem comissões em seus canteiros.
“O objetivo disso é criar ainda mais unidade nos canteiros dessa construtora. O segundo passo será uma grande paralisação, com direito à passeata, para mostrar à sociedade que pessoas perdem a vida por falta de respeito de empresários e para mostrar para a empresa que é muito mais barato e decente investir em segurança do que ter uma obra parada por uma reivindicação que não deveria nem estar acontecendo” afirma.
Ângelo Gabriel, do Sindicato dos Padeiros; Valéria Cabral da Silva, do Sindicato das Costureiras: Pereira, vice-presidente dos Metalúrgicos de São Paulo, Leninha e Luizinho, diretores dos Metalúrgicos também estiveram presentes no ato, manifestando apoio aos amigos e familiares de Roberto.
O padre Antenor Dalla Vecchia lembrou que todos são iguais perante a Deus e por isso devem ser tratados como semelhantes, mas nem sempre isso acontece. “A dor da família de Roberto é a mesma que sentimos e a união de vocês é que pode começar a mudar esse quadro de abandono e desrespeito em que vivemos”, disse o padre.
Ramalho colocou o setor jurídico do Sindicato à disposição dos parentes da vítima e segue acompanhando o caso de perto.
“Para mim, não existe acidente. O que existe, sim, é incompetência administrativa e a utilização de materiais de segunda classe. Não deixaremos que a impunidade se sobreponha a essa tragédia. Ainda mais quando sabemos que Roberto recentemente perdeu a esposa e, morto, deixa uma filha de apenas três anos de idade. E eu pergunto: quem cuidará dessa criança? Nosso Sindicato, inclusive, pensa em disponibilizar tratamento psicológico para ela”, discursou para os trabalhadores.
Ramalho não consegue admitir que uma operação do gênero tenha sido feita sem bandeja de proteção, para aparar queda de objetos.
“Isso, para mim, é irresponsabilidade seguida de crime”, asseverou.
Ação Nacional
Durante a assembleia, Ramalho propôs – e os funcionários acataram – que seja feita uma operação pente-fino em toda obra da Brookfield, não só em São Paulo, mas em todo o País.
Para tanto, o sindicalista prometeu contatar as centrais sindicais, que tenham em seus quadros sindicatos ligados aos trabalhadores da Construção Civil, para pressionarem a construtora através de manifestações.
“Em Brasília, procuraremos o Ministério Público. Vamos demonstrar nosso descontentamento com respeito às relações entre o capital e o trabalho exercidas pela Brookfield, exigindo providências para que a empresa reforce seus métodos de segurança no trabalho”, alertou.
Em São Paulo, segundo Ramalho, ocorrerão atos sucessivos de repúdio à morte Roberto Celis.
“Qualquer irregularidade encontrada em obra da Brookfield será motivo para fazermos greve. E que o patrão pague para ver”, concluiu Ramalho da Construção.
Fonte: Mundo Sindical
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