sexta-feira, 16 de março de 2012

Seg.Trabalho - Anhanguera usa professores inadequados para Segurança do Trabalho

Anhanguera coleciona reclamações na região
A Anhanguera Educacional, que adquiriu cinco instituições de ensino no Grande ABC - UniA, Faenac, Faculdade Anchieta, UniABC e Uniban - mal iniciou o ano letivo e já enfrenta várias reclamações. Os relatos vão desde udança repentina de endereço do local do curso até turmas sem professor e alterações na grade curricular.


Na unidade Anchieta, em São Bernardo, alunos do 3º semestre de Tecnologia em Radiologia acusam a direção de alterar o endereço das aulas para o campus da Uniban, na cidade. "O gasto com o transporte será alto", diz a estudante Bianca Vitorino, 19 anos.
Alunos de Pedagogia e Logística se queixam de superlotação nas salas. "São 86 pessoas num espaço que só cabem 60", diz a estudante do 2º semestre de Pedagogia, Maria Aparecida da Silva, 29. A colega de sala, Patrícia Fiori, 26, se diz preocupada com o número de aulas à distância. "Tememos que nossa carga horária esteja abaixo do recomendado pelo MEC."
Para a aluna do 3º semestre de Gestão de Relações Humanas, Isabel Gonçalves, 29, a troca de matérias na grade curricular prejudica o ensino. "Tem professor de Psicologia que está dando aulas de Segurança do Trabalho. Diversos estudantes estão pensando em desistir", desabafa.
Na última terça-feira, cerca de 500 alunos da unidade fizeram um protesto em frente à faculdade, cobrando solução para os problemas.
GRADE - No campus da UniABC, em Santo André, os estudantes do 6º semestre de Administração relatam que a grade curricular foi modificada. Foram incluídas disciplinas já cumpridas, sumiram com aulas que seriam ministradas e acrescentaram outras que seriam continuações. "Na grade aparece a disciplina Estágio Supervisionado 2, sendo que nem fizemos o módulo 1", revela Juliana Valentim Gomes, 26.
O problema de superlotação das salas também se repete. "Pior é que o ano letivo começou no dia 27 de janeiro e até agora não tive uma aula sequer por falta de professor", diz André Luiz Orsoli, 27.
Até mesmo quem já se formou tem problemas. Graduada em Pedagogia no campus Faenac, em São Caetano, Nayara Franco, 24, não consegue informações sobre a colação de grau por constar como ‘reprovada' no site da faculdade. "Pedi explicações para a secretaria, mas não consigo contato por telefone."
Em nota, a Anhanguera Educacional afirma que, "em relação ao curso de Tecnologia em Radiologia da Faculdade Anchieta, a instituição propôs aos alunos a possibilidade de transferência para a Uniban São Bernardo. Contudo, os estudantes optaram por permanecer na unidade de origem, onde as aulas acontecem normalmente. A mesma situação se deu aos alunos de Arquitetura, que aceitaram a proposta".
Sobre a mudança curricular no curso de Administração na UniABC, a direção se coloca à disposição para detalhamentos. Quanto ao caso específico de Nayara Franco, informaram que a situação já foi regularizada.
Sindicato quer ação coletiva contra instituição
Sindicato dos Professores do ABC realizou no dia 6 de março reunião com a Federação dos Professores de São Paulo para discutir as demissões em massa que a Anhanguera promoveu no ano passado. Foram 406 demitidos nas unidades do Grande ABC, sendo que 22 conseguiram reverter a decisão por estar perto da aposentadoria e ter direito a estabilidade.
"Nossa ideia é verificar com sindicatos de cidades onde há unidades da Anhanguera se há possibilidade de ação conjunta contra a empresa. Por enquanto, a instituição não se manifestou", diz o presidente da entidade, José Jorge Maggio. A maior parte dos demitidos (135) era da UniABC, sendo que 65% eram mestres e doutores. Em todo o Estado, foram 1.600 demissões.
Em nota, a Anhanguera esclarece que a atualização do corpo docente "é necessária para adaptar os currículos das novas unidades ao padrão de qualidade dos cursos. Nesse ajuste, a Anhanguera reduziu o número de professores temporários e sem titulação, mas realizou contratações de outros em regime integral".
INVESTIGAÇÃO - A Anhanguera ainda está sendo alvo de uma investigação pela Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda. O objetivo é verificar se há monopólio do Ensino Superior por parte da instituição. O procedimento é obrigatório quando há aquisições de empresas na qual uma das acionistas tem faturamento superior a R$ 400 milhões no ano anterior à realização do negócio. "O processo ainda está em análise, mas em fase final de apuração. Não há como dar uma previsão porque nada impede que surjam novas dúvidas e a investigação seja estendida", explica o assessor técnico da secretaria, Ricardo Faria.
MEC instaura processo de supervisão nas unidades
Procedimento comum em todas as instituições de ensino superior, o MEC (Ministério da Educação) informa que está em andamento um processo de supervisão na Anhanguera Educacional desde novembro de 2011. Os cursos são visitados por técnicos que verificam as condições de oferta da graduação, observando três aspectos principais: composição do corpo docente, infraestrutura e projeto pedagógico.
Caso sejam constatadas irregularidades, o MEC pode instaurar processo administrativo contra a instituição e um termo de saneamento de deficiências. Não há, ainda, previsão para o término da ação do ministério na Anhanguera. Quanto às denúncias feitas pelos estudantes, o órgão federal afirma que não interferem na relação entre instituição e alunos.
Se os estudantes se sentirem lesados, a saída é procurar um órgão de defesa do consumidor. No entanto, se encaminhada denúncia diretamente ao MEC, o ministério notifica a instituição para esclarecimentos ou encaminha o caso para o Ministério Público, dependendo da gravidade da situação.
De acordo com a advogada da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), especialista em Defesa do Consumidor, Jounig Won Kim, a melhor solução para os estudantes que se sentirem prejudicados pelas mudanças promovidas pela Anhanguera é entrar com uma ação coletiva na Justiça. "A ação, quando feita coletivamente, tem efeito mais eficiente. Os alunos podem entrar com denúncia no Ministério Público e no Ministério da Educação exigindo a readequação do que foi acertado inicialmente em contrato", afirma.
Conforme Jouning, quanto aos prejuízos gerados por mudanças de local do curso, o aluno pode pedir o ressarcimento do dinheiro investido em transporte.


Fonte: Diário do Grande ABC

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