A segurança privada é um dos setores que mais crescem no mundo. No Brasil, o contingente de agentes de segurança oferecido por empresas já supera o contingente de profissionais do ramo oferecido pelo Estado.
Dados como este, no entanto, representam um problema para as políticas de segurança pública do país, segundo afirma o cientista político André Zanetic, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pois não existe comunicação ou qualquer regulação nas relações entre os setores privado e público no Brasil, dificultando o planejamento de ações de combate à violência.
– A regulação é extremamente necessária, pois se trata de uma questão de política pública.
Atualmente, não existe nenhum protocolo de cooperação entre as forças de segurança, ou que determine quem comandará determinada ação.
– Isto representa um grande problema se pensarmos que o contingente da Segurança Privada supera as Forças Públicas no país –, analisa Zanetic.
Segundo ele, a segurança privada necessita de informações públicas para funcionar bem, ao mesmo tempo que os órgãos de segurança pública precisam obter acesso aos dados das ocorrências em locais monitorados por empresas privadas para conseguirem monitorar índices de violência e planejar ações ao longo prazo.
– Em uma universidade, verificou-se que seu corpo de segurança tinha mais informações sobre ocorrências do que a Secretaria de Segurança Pública –, exemplifica o pesquisador, que também utilizou um condomínio residencial na Grande São Paulo e um shopping center na capital paulista como objeto de estudo.
– Isso dificulta no monitoramento dos índices de criminalidade da região e na ação da polícia na área.
Para o sociólogo, a relação entre as duas forças de segurança deve ser de complementariedade para ser benéfica para a população.
– Caso haja troca de informações entre os dois setores a sociedade só tem a ganhar, como já se provou em países como Estados Unidos e França. Mas para isso é necessário uma regulação deste diálogo –, aponta.
Entre os problemas que a falta de regulação e a falta de diálogo entre as forças de segurança públicas e privadas podem gerar estão o mal uso de armas de fogo, o treinamento deficitário de pessoal nas empresas privadas e o mercado informal, também conhecido como “bico”.
– O bico mexe com a estrutura organizacional da polícia: altera escalas de trabalho e interfere na produtividade do agente público.
A ausência de um manual de procedimento, que estipule as funções e os limites dos setores públicos e privados de segurança, causa “choques operacionais” nas estruturas das Forças Públicas e no planejamento de suas ações.
– Muitas vezes, por falta de recursos, áreas monitoradas por empresas de segurança são esquecidas pelo setor público. Percebe-se isso em locais como grandes condomínios de residências, que não são considerados no planejamento de políticas públicas de segurança, porque o setor público não enxerga mais estas áreas como sua responsabilidade ou porque não possuem informações sobre as ocorrências nestas regiões –, relata Zanetic.
Como solução para o problema o pesquisador aponta a criação de Fóruns conjuntos, que contém com a participação da Federação Nacional de Segurança Privada e as esferas de governo (Municipal, Estadual e Federal).
– Precisamos de um órgão de regulação das ações e políticas de segurança pública no país. Com isso, aumentaríamos muito a eficiência de nosso contingente e a qualidade de vida da população –, conclui Zanetic.
Fonte: Correio do Brasil
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