No dia 27 de março do ano passado os moradores da Rua Henrique de Leó, em Diadema, São Paulo, foram surpreendidos por volta das 7h com um incêndio que destruiu praticamente toda a empresa Diall Química Distribuidora (foto) e pelo menos 15 residências vizinhas. No galpão, a pequena empresa, com 10 funcionários, armazenava grande quantidade de galões e tambores com materiais inflamáveis, como solventes e outros produtos destinados à fabricação de material de limpeza. Durante quatro horas, tempo que os bombeiros levaram para controlar o incêndio, rolos de fumaça preta em meio a labaredas de mais de 50 metros de altura podiam ser vistas a uma distância de oito quilômetros. Já o calor das chamas era sentido a uma distância de 200 metros. Os resquícios deste acidente ampliado foram casas próximas totalmente destruídas e empresas vizinhas danificadas, além de danos causados ao meio ambiente pelos poluentes lançados no ar, na água e no solo.
Ocorrências como esta têm sido mais frequentes ao longo dos anos em empresas químicas de pequeno e médio porte no Brasil, uma vez que empregados e empregadores acumulam pouco conhecimento sobre os riscos oferecidos pelo setor e acabam se submetendo a condições de trabalho inadequadas. Nesta reportagem especial da Proteção, especialistas indicam por onde começar para mudar o panorama de insegurança e má gestão de produtos químicos dentro das empresas do setor.
Um dos passos já está sendo dado com a atualização da NR 20 (Norma Regulamentadora - Líquidos Combustíveis e Inflamáveis), que está sendo revisada pelo GTT (Grupo de Trabalho Tripartite) e que pretende estimular para que todas as empresas, sejam elas grandes ou pequenas, implementem uma cultura preventiva de acidentes ampliados.
Paralelamente a este movimento, entidades e órgãos que atuam pela Saúde e Segurança do Trabalho, além do próprio Governo, também estão propondo e implementando ações para diminuir o cenário frágil que ronda quem trabalha ou reside próximo a estas indústrias no Brasil.
Investigação
Em agosto do ano passado, cinco meses após o acidente que destruiu as instalações da Diall Química, um workshop realizado em São Paulo pela Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) abriu espaço para divulgar alguns pontos detectados pela investigação feita pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) sobre as causas do acidente em Diadema. A auditora fiscal do trabalho da SRTE/SP (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo), Viviane Forte, que acompanhou as investigações, disse que foram encontradas na empresa grandes quantidades de produtos estocados, ausência de hidrantes, nenhum sistema de contenção de vazamentos ou sistemas de coletas, além do desconhecimento dos empregadores sobre os riscos de manipular produtos químicos inflamáveis. "As condições do meio ambiente de trabalho eram inadequadas em relação à instalação elétrica, estocagem e circulação de pessoas e produtos. Diante desse cenário, várias coisas podem ter acontecido, até mesmo um acender de luzes pode ter iniciado o incêndio", pontua.
O evento registrado na Diall é apenas um exemplo de recente acidente químico ampliado ocorrido no País e que por sua magnitude e proporção chama a atenção quanto à necessidade de ações voltadas para a prevenção destas ocorrências. Antes de entender em que contexto histórico estes acidentes começaram a ser registrados pelo mundo inteiro, é preciso saber como eles são caracterizados. Considera-se acidente químico ampliado todo o evento inesperado, como uma emissão, incêndio ou explosão de grande magnitude, individualmente ou combinado, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas com o potencial de causar, simultaneamente, múltiplos danos ao meio ambiente e à população exposta, seja de trabalhadores ou da comunidade, trazendo consequências imediatas, ou de médio e longo prazo.
Eles podem ocorrer na indústria química, petroquímica ou em empresas que utilizam produtos químicos. "São ocorrências que produzem efeitos que extrapolam os limites físicos das empresas, colocando em risco além dos trabalhadores, a comunidade, o meio ambiente, com contaminação do solo, da água e da atmosfera, podendo ainda acarretar em danos nas edificações vizinhas", acrescenta Viviane. De acordo com especialistas, não é somente a capacidade de provocar grande número de óbitos que caracteriza um acidente químico ampliado. Também é importante considerá-lo quando o potencial da gravidade e extensão dos seus efeitos ultrapassa os limites espaciais, de bairros, cidades, estados e até mesmo países, ou temporais, como a carcinogênese, desencadeando um processo de formação de câncer, e mutagênese, provocando danos na molécula de DNA.
Fonte: Revista Proteção
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